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Proclamação da República: entre imposições e a busca pelo ideal republicano

O historiador Vicente Gualberto levanta questões fundamentais sobre a trajetória republicana brasileira

15/11/2024 17h36
Proclamação da República: entre imposições e a busca pelo ideal republicano

O historiador Vicente Gualberto analisou o contexto da Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, destacando a ausência de participação popular e os interesses das elites por trás do movimento. Segundo ele, o Brasil não “é republicano”, mas “está republicano”, indicando que o ideal republicano ainda não foi plenamente alcançado no país.

O que é república?

Para Gualberto, entender a essência da república é fundamental. “Ser republicano é zelar pela coisa pública. ‘Res’ é coisa, então república é coisa pública”, explicou. Contudo, ele afirma que o movimento que instaurou a república no Brasil não foi popular. “As pessoas queriam república em 15 de novembro de 1889? A resposta é não. O povo participou da proclamação da república? A resposta é não.”

Ele ressalta que, diferentemente da independência, que foi um desejo da população, a república foi uma imposição de uma elite minoritária, tanto civil quanto militar.

“Nós, brasileiros, não somos republicanos, estamos republicanos, porque a república foi uma coisa imposta.”

A crise do Império

O professor apontou os fatores que levaram à queda do regime monárquico. “O Império perdeu o apoio de seu tripé: latifundiários, igreja e exército. Com a abolição da escravidão, os latifundiários perderam sua mão de obra gratuita; a igreja se afastou após a prisão de um bispo e a mudança de posicionamento em relação à escravidão; e o exército, desprestigiado após a Guerra do Paraguai, também se rebelou.”

Ele acrescenta que a proclamação foi mais um golpe do que uma revolução. “A república é um golpe. Ela não é uma coisa espontânea, não é gestada dentro do seio do povo. Foi uma revolta contra a monarquia por parte das elites.”

Mudanças e continuidade

Questionado sobre as transformações trazidas pela república, o historiador foi enfático: “Que mudanças imediatas a República trouxe para as pessoas? Nenhuma. Dois anos depois veio a Constituição de 1891, que trouxe o Estado laico e o casamento civil, mas isso não impactou diretamente a maioria da população, que sequer sabia o que era república.”

Ele também destacou a desinformação e o desinteresse popular. “As pessoas não sabiam o que era república. O brasileiro não é povo, é público. Não há relação nenhuma. Nós, em pleno 2024, ainda não temos um princípio republicano de ser e agir.”

Deodoro, Floriano e o início conturbado

O historiador também abordou os personagens centrais do movimento, como Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

“Deodoro era amigo do imperador Pedro II e não era republicano. Sua participação como primeiro presidente reflete o caráter imposto do regime. Ele foi eleito indiretamente, e pouco depois Floriano dá um golpe e assume o poder.”

Essa sequência de golpes evidencia, segundo Gualberto, que a república não nasceu como um desejo coletivo, mas como uma manobra elitista.

O ideal republicano: um desafio atual

Gualberto concluiu com uma reflexão sobre o que significa ser republicano. “Ser republicano é zelar pelo que pertence a todos, pensar no povo, e não em elites. Ainda estamos longe desse ideal. Precisamos construir uma base coletiva de pensamento e enxergar o público como parte de nós, não como algo distante, pertencente ao governo.”

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