Feira de Santana

Mães de crianças com autismo realizam manifestação contra plano de saúde em Feira de Santana

Segundo uma das mães há cerca de dois meses, 32 crianças em Feira de Santana e mais de 300 em Salvador foram notificadas pela Unimed sobre a mudança de clínicas.

13/11/2024 12h26
Mães de crianças com autismo realizam manifestação contra plano de saúde em Feira de Santana
Foto: Ednalva Valença

Mães de crianças autistas de Feira de Santana se reuniram em frente à sede da rede de plano de saúde Unimed para protestar contra práticas que consideram abusivas e prejudiciais por parte da operadora de saúde.

Segundo Jackeline Silva Lopes, uma das mães que participa da manifestação e mãe de duas crianças autistas, o movimento busca “denunciar o que está acontecendo com várias crianças com autismo que dependem dos planos de saúde”. As famílias alegam que há um padrão de práticas consideradas abusivas, como o aumento excessivo dos valores, cancelamento unilateral de contratos e transferências compulsórias para clínicas de qualidade inferior.

Foto: Ednalva Valença

Jackeline relatou que há cerca de dois meses, 32 crianças em Feira de Santana e mais de 300 em Salvador foram notificadas pela Unimed sobre a mudança de clínicas. Essas crianças estavam em tratamento em centros especializados e multidisciplinares, garantidos por decisões judiciais. Contudo, segundo a mãe, a operadora redirecionou as crianças para clínicas recentemente credenciadas, onde, segundo ela, há problemas graves na qualidade e na estrutura oferecida.

“Essas novas clínicas têm qualidade duvidosa, não apresentam certificações adequadas e, muitas vezes, não têm espaço para atender toda a demanda”, afirmou Jackeline.

Laise de Jesus Bacelar, mãe de um filho de oito anos, estava entre as mães que participaram do protesto em frente ao escritório da Unimed. Laís expressou sua frustração com a interrupção das terapias essenciais para o desenvolvimento do filho e de outras crianças autistas.

Foto: Ednalva Valença

“Estamos em busca de visibilidade, queremos e exigimos respeito. Pagamos as mensalidades do plano com o objetivo de manter o tratamento dos nossos filhos, mas a prestadora, a Unimed, não tem feito seu papel. Eles interrompem as terapias, prejudicando a saúde dos nossos filhos e nossa própria saúde mental,” desabafou Laís. Ela relatou que seu filho está sem terapia há um mês e quinze dias e que muitas crianças também enfrentam a suspensão, resultando em regressões significativas em seu desenvolvimento.

Sandreane de Oliveira, mãe de uma criança de cinco anos, compartilhou sua experiência com o descumprimento de uma liminar judicial pela Unimed.

Foto: Ednalva Valença

“Meu filho estava em tratamento há dois anos e meio com uma liminar que garanti. A Unimed suspendeu o tratamento e não direcionou para outra clínica. Agora, mesmo com uma nova liminar, eles não cumprem a decisão judicial,” disse Sandreane. Ela ressaltou que, apesar de várias tentativas de contato, incluindo visitas ao Ministério Público e ao fórum, ainda não recebeu resposta da Unimed.

Alice, outra mãe de autista presente na manifestação, destacou a importância de terapias contínuas e personalizadas para o desenvolvimento adequado das crianças autistas.

Foto: Ednalva Valença

“Estamos aqui pela saúde mental e social dos nossos filhos. A Unimed descumpriu liminares e quer nos forçar a aceitar uma clínica sem certificação adequada. Nossas crianças precisam de terapias individualizadas e constantes, não de um atendimento que não traga desenvolvimento,” afirmou Alice. Ela relatou que mais de 40 crianças foram afetadas pela interrupção das terapias, enquanto as mães seguem sem respostas do plano de saúde.

O movimento também destacou que a situação está sendo acompanhada pela Agência Nacional de Saúde, e que outras ações judiciais estão em andamento.

Resposta da Unimed e do Ministério Público

Em nota, a Unimed Nacional afirmou que “não houve suspensão de tratamento”, explicando que os pacientes com autismo estão sendo encaminhados para clínicas especializadas da rede credenciada, em conformidade com diretrizes estabelecidas pelas normas dos planos de saúde. A cooperativa alega que o processo de transição inclui suporte às famílias e visitas às novas unidades, e que algumas famílias resistem à mudança e não compareceram às visitas agendadas para conhecer a estrutura das novas clínicas.

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também se manifestou sobre o caso, informando que instaurou um procedimento para investigar a situação e, no início do mês, realizou uma inspeção na clínica indicada pela Unimed para o atendimento das crianças. Segundo o MP, a Central de Assessoramento Técnico Interdisciplinar está elaborando um relatório que embasará novas ações, conforme necessário.

*Com informações dos repórteres Robson Nascimento e Ednalva Valença

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