Abordagem multidisciplinar no tratamento do vaginismo: Ginecologista alerta para a importância do diagnóstico e diálogo
Dra. Márcia Suely expôs a complexidade do vaginismo, suas causas, sintomas e a importância de incluir diferentes especialistas no processo de recuperação.
O vaginismo é uma condição pouco falada, mas que afeta profundamente a qualidade de vida de muitas mulheres. A Dra. Márcia Suely, ginecologista, tem se dedicado a esclarecer o público e seus colegas de profissão sobre essa disfunção sexual, ressaltando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar no tratamento. Em entrevista ao programa Cidade em Pauta (rádio Nordeste FM), ela expôs a complexidade do vaginismo, suas causas, sintomas e a importância de incluir diferentes especialistas no processo de recuperação.
“O vaginismo, ou dor genitopélvica, é a contração involuntária dos músculos da vagina, uma condição que gera desconforto e dor durante a relação sexual,” explicou Dra. Márcia. Ela relatou que, em sua prática, tem diagnosticado entre duas e três pacientes por semana, muitas das quais nunca souberam que tinham essa disfunção. “Elas chegam ao consultório sem saber do que se trata, sem ter um diagnóstico, e isso é preocupante,” afirmou.
O vaginismo pode ser causado por traumas, como abuso sexual, mas, conforme ressaltou a Dra. Márcia, há outros fatores que influenciam. “Pode ser um medo desenvolvido a partir de infecções vaginais recorrentes, gerando um ciclo de dor e contração que leva ao medo novamente. Esse ciclo vicioso é difícil de quebrar sozinho,” acrescentou.
A importância da abordagem multidisciplinar
Para enfrentar a complexidade do vaginismo, Dra. Márcia defende a atuação conjunta de ginecologistas, psicólogos e fisioterapeutas. Segundo ela, o ginecologista é, geralmente, o primeiro profissional a entrar em contato com a paciente, sendo essencial para o diagnóstico inicial.
“Ao realizar exames preventivos, o ginecologista pode perceber sinais quando a paciente relata dor. Essa dor não é normal, e o profissional precisa estar atento para encaminhar ao tratamento adequado,” pontuou.
Além do ginecologista, a inclusão de um psicólogo é fundamental para trabalhar o aspecto emocional e psicológico, que muitas vezes contribui para o problema.
“O psicólogo ajuda a paciente a lidar com o medo e a insegurança que levam à contração involuntária,” explicou. Já o fisioterapeuta atua na reabilitação e relaxamento da musculatura vaginal, essencial para quebrar o ciclo de dor e medo.
Impactos nos relacionamentos
Durante a conversa, Dra. Márcia relatou casos que ilustram a profundidade e os desafios do tratamento. Em um exemplo, ela mencionou uma paciente que estava casada há três anos sem conseguir ter uma relação sexual devido ao vaginismo.
“Foram necessários oito meses de tratamento com a equipe para que ela conseguisse ter a primeira relação sexual,” compartilhou a médica, destacando também o impacto psicológico e físico do vaginismo em mulheres de diversas idades e contextos.
O vaginismo também afeta a vida dos casais. Segundo a médica, o tema precisa ser abordado com sensibilidade, pois muitas mulheres acabam se afastando da intimidade por vergonha ou receio de admitir a dor que sentem.
“Tenho pacientes que achavam que era normal sentir dor na relação. Só entenderam que tinham uma condição médica quando começamos o tratamento,” explicou.
A questão da menopausa e outras complicações
Outro ponto levantado foi o surgimento de sintomas semelhantes ao vaginismo durante a menopausa, fase em que a secura vaginal pode intensificar a dor durante o ato sexual.
“O ressecamento causa desconforto, que pode levar ao medo de sentir dor e, assim, desencadear o ciclo de contração involuntária,” alertou Dra. Márcia.
O fisioterapeuta e osteopata Rodrigo Santana também participou da discussão, questionando se a contração da musculatura vaginal pode afetar outras funções, como a defecação e micção. Dra. Márcia confirmou que a contração pode, sim, envolver outras áreas do assoalho pélvico, impactando funções como a evacuação e micção, dependendo do grau e do tipo de disfunção presente.
O papel do diálogo e do diagnóstico
Para Dra. Márcia, o diálogo é essencial, não apenas entre a paciente e os profissionais de saúde, mas também entre o casal.
“Muitas separações poderiam ser evitadas se houvesse mais comunicação e compreensão sobre essa condição,” concluiu. Ela ainda incentivou mulheres a buscar ajuda e conhecimento sobre o assunto, e destacou a importância de serem acolhidas com empatia durante o tratamento.