Do laço amarelo à mobilização internacional: como nasceu o Setembro Amarelo
Do Mustang amarelo à mobilização global
O Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, nasceu a partir da história de um jovem norte-americano de 17 anos chamado Mike. Apaixonado por carros e mecânica, ele tinha como grande orgulho um Mustang 68 amarelo. No dia 8 de setembro de 1994, Mike foi encontrado sem vida dentro do veículo, deixando familiares e amigos abalados.
Durante o velório, conhecidos distribuíram cartões acompanhados de fitas amarelas como forma de chamar atenção para a importância de falar sobre sentimentos e dores internas. Esse gesto simbólico deu origem a uma das maiores campanhas globais de prevenção ao suicídio.
“O Setembro Amarelo surgiu dessa forma nos Estados Unidos, mas rapidamente ganhou o mundo. Hoje, a campanha é uma forma de conscientização sobre a importância de falar de saúde mental e buscar ajuda”, explica a psicanalista Jamylle Albernaz.
Segundo Jamylle, o Brasil ocupa atualmente o posto de país mais ansioso do mundo, um cenário agravado após a pandemia da Covid-19.
“A sociedade está cada vez mais adoecida. Ansiedade e depressão aumentaram em todas as faixas etárias — de crianças a idosos. O estilo de vida acelerado, as cobranças e a falta de pausas contribuem para esse quadro”, afirma.
Ela destaca ainda a chamada síndrome do pensamento acelerado como um dos grandes males do século.
“As pessoas não conseguem desligar o cérebro. Dormem e acordam cansadas, com a sensação de que não descansaram. Isso vai gerando crises de ansiedade e outros transtornos”, alerta.
Entre os sinais de que algo não vai bem, a psicanalista cita insônia, compulsão alimentar, isolamento social, inquietação constante e até pequenos comportamentos repetitivos, como balançar a perna ou roer unhas de forma excessiva.
“Quando a ansiedade foge do controle e a pessoa não consegue mais interromper o ciclo de pensamentos, é hora de procurar ajuda especializada. Psicólogos, psicanalistas e psiquiatras são os profissionais capacitados para diagnosticar e tratar”, orienta.
Jamylle reforça que pequenas mudanças de hábito podem ajudar no cuidado com a mente.
“Precisamos aprender a contemplar a vida, o ócio é necessário para a higiene mental. Mas muitas vezes nem nas férias as pessoas conseguem relaxar, pois estão mais preocupadas em registrar o momento para postar do que em vivê-lo”, comenta.
Embora homens também apresentem altos índices de ansiedade, a psicanalista acredita que as mulheres acabam sendo mais diagnosticadas.
“As mulheres acumulam múltiplas funções e ainda assim procuram mais os serviços de saúde. Muitos homens, por preconceito, não buscam atendimento, o que dificulta os registros”, explica.
Para a psicanalista, a chave está em falar abertamente sobre saúde mental.
“Não existe fórmula mágica. É preciso conscientização, educação psicossocial e informação. Quanto mais natural for o diálogo sobre o tema em escolas, unidades de saúde, grupos de amigos e família, maior será a chance de reduzir estigmas e salvar vidas”, conclui.