Canetas emagrecedoras podem reduzir eficácia dos anticoncepcionais, alerta ginecologista
Uso crescente preocupa especialistas; médica recomenda contracepção adicional e orientação profissional
O uso das chamadas “canetas emagrecedoras” tem crescido exponencialmente entre mulheres brasileiras, mas um alerta recente da comunidade médica e científica acendeu o sinal vermelho: essas substâncias podem reduzir a eficácia dos anticoncepcionais orais, aumentando o risco de gravidez indesejada.
A ginecologista Dra. Márcia Suely explicou, em entrevista ao Jornal do Meio Dia da Rádio Princesa FM, os riscos e recomendações para as mulheres que utilizam esse tipo de medicação. Segundo ela, o alerta partiu de um estudo de 2024, que já aponta um aumento significativo de casos de gravidez em mulheres que faziam uso simultâneo de canetas emagrecedoras e anticoncepcionais orais.
“Essas canetas imitam um hormônio chamado GLP-1, que é produzido no sistema digestivo e tem como função reduzir o apetite. O problema é que, ao fazer isso, elas também podem causar náuseas e vômitos. Com isso, o organismo pode eliminar o anticoncepcional antes mesmo da absorção adequada”, explicou a médica.
Além dos episódios de náusea, Dra. Márcia destacou outro fator importante: “Essas substâncias aumentam o tempo de esvaziamento gástrico, o que compromete a absorção de medicamentos via oral, como os anticoncepcionais. O resultado é uma diminuição nos níveis de estradiol no sangue, que pode não ser suficiente para inibir a ovulação.”
Segundo a ginecologista, o alerta se torna ainda mais relevante com a chegada da tirzepatida, um novo princípio ativo recentemente aprovado pela Anvisa e que está sendo bastante procurado nas farmácias.
“Esse estudo de 2024 mostrou que o efeito de interferência nos anticoncepcionais parece ser ainda maior com a tirzepatida do que com o Ozempic, embora ainda não se saiba o porquê. Acredita-se que ela atue em outras cascatas hormonais que ainda estão sendo estudadas”, pontuou.
Dra. Márcia também chamou atenção para um fator que, embora ainda não esteja documentado em estudos científicos, pode ter relação com o aumento das gestações não planejadas.
“Muitas mulheres com obesidade têm uma fertilidade mais baixa. Ao emagrecerem com o uso dessas canetas, a fertilidade volta ao normal. Se estiverem usando a pílula de forma irregular, a chance de engravidar aumenta significativamente.”
Para ela, é fundamental orientar as pacientes e alertar os profissionais da área: “As mulheres que estão usando anticoncepcionais orais e vão iniciar o uso dessas canetas devem ser aconselhadas a utilizar um método contraceptivo extra, como preservativos, ou optar por métodos não orais, como DIUs ou implantes hormonais.”
Dra. Márcia ainda comentou sobre o uso indiscriminado e, muitas vezes, sem prescrição médica dessas substâncias.
“Já ouvi relatos de pessoas que usam a caneta só para ir a festas. Querem emagrecer rápido para o fim de semana e depois voltam à rotina. É um uso irresponsável que traz riscos reais à saúde.”
A médica elogiou a nova medida da Anvisa, que passou a exigir retenção da receita médica para aquisição desses medicamentos.
“Esse controle é essencial. Agora, as pacientes vão ter que passar por um médico, que pode orientar sobre os efeitos colaterais e as interações medicamentosas.”
Para as mulheres que já fazem uso dessas canetas, Dra. Márcia reforça a importância do acompanhamento profissional.
“Converse com seu médico. Se já está usando e também toma anticoncepcional oral, avalie a possibilidade de associar um método de barreira ou trocar por um método não oral. Informação e cuidado são as melhores formas de evitar surpresas desagradáveis.”
Embora ainda não tenha recebido casos em seu consultório, a médica alerta: “A maioria das minhas pacientes já passou da idade reprodutiva, mas colegas ginecologistas que atendem mulheres mais jovens já estão relatando gestações indesejadas com o uso combinado de anticoncepcionais orais e essas canetas.”
Dra. Márcia finalizou fazendo um apelo às mulheres: “Procurem sempre orientação médica. Essas medicações não são inofensivas, têm contraindicações e exigem prescrição criteriosa. A saúde da mulher merece esse cuidado.”