Bahia

2 de Julho: “O Brasil ficou independente na Bahia”, afirma professor de história

Para o professor, o que torna o 2 de Julho uma data especial é o caráter popular da guerra

02/07/2025 16h06
2 de Julho: “O Brasil ficou independente na Bahia”, afirma professor de história

Em entrevista ao programa Jornal do Meio Dia da rádio Princesa FM, o professor de história Vicente Gualberto falou sobre as raízes da independência brasileira e o protagonismo da Bahia nesse processo. Segundo ele, a verdadeira independência do Brasil aconteceu em solo baiano, após mais de um ano de batalhas intensas e heroicas no Recôncavo Baiano.

“O Brasil ficou independente na Bahia. O 7 de Setembro é apenas um ato simbólico, uma pintura bonita feita por Pedro Américo, mas sem correspondência com a realidade. A guerra de verdade começou no dia 25 de junho de 1822, quando a Câmara de Cachoeira declarou fidelidade a Dom Pedro, e os portugueses começaram a bombardear a cidade”, explicou Gualberto.

Para o professor, o que torna o 2 de Julho uma data especial é o caráter popular da guerra, protagonizada por vaqueiros, marisqueiras, sapateiros e outros trabalhadores humildes que deixaram tudo para lutar pela independência do Brasil.

“Foi uma guerra travada por pessoas simples, que saíram do sertão, da zona da mata, para enfrentar as tropas portuguesas em Salvador. É uma data cívica, não militar, marcada pelo sacrifício popular”, destacou.

Entre essas figuras, está Maria Quitéria, que se vestiu de homem para lutar nas trincheiras. Embora reconhecida como heroína nacional em outras partes do país, o professor lamenta que ela seja esquecida em sua própria terra.

“Infelizmente, o brasileiro é um povo imediatista e esquece seus heróis. Maria Quitéria é lembrada em São Paulo, no Museu do Ipiranga, com um enorme retrato. Mas aqui na Bahia, poucos sabem quem ela foi”, afirmou.

Ele critica o que vê como uma falha de educação histórica no Brasil. “O herói é um símbolo que representa tudo o que é bom, nobre e decente e nós, como sociedade, estamos falhando em ensinar isso às novas gerações”, disse.

O professor também explicou por que a luta na Bahia foi tão intensa: mesmo com o título de capital do Brasil já transferido para o Rio de Janeiro desde 1763, Salvador continuava sendo um ponto estratégico, onde os portugueses mantinham forte presença militar.

“O comandante português Madeira de Melo chegou a dizer que não sairia de Salvador de jeito nenhum. A cidade estava cheia de fortes, que hoje são paisagens turísticas, mas que abrigavam soldados portugueses determinados a não ceder”, contou.

Embora não existam registros exatos do número de mortos, o professor estima que milhares de brasileiros perderam a vida durante os conflitos, enquanto os portugueses estavam melhor armados. A tropa brasileira, segundo ele, era composta por voluntários e comandada por mercenários estrangeiros contratados pelo governo imperial.

“O Brasil não tinha exército. Compramos tropas e marinha. Mas quem lutou mesmo foram pessoas que deixaram suas casas pela liberdade, sem rádio, jornal ou internet, muitos analfabetos. Foi um movimento profundamente patriótico”, relatou.

A entrevista também trouxe reflexões sobre o apagamento da história local. O professor comentou sobre o descaso com os heróis baianos e o abandono de prédios históricos em Feira de Santana e outras cidades do interior.

“Feira de Santana tem uma grande parte da população sem referência histórica local. Como amar algo que não é seu? Amor se constrói com pertencimento e pertencimento vem da educação. Infelizmente, não estamos educando para preservar a memória”, afirmou.

O professor citou exemplos como a casa do médico Eduardo Fróes da Mota, preservada graças à Fundação Senhor dos Passos, e lamentou a destruição de outras, como a casa da família Portugal, onde hoje existe apenas um terreno vazio.

Sobre o projeto que propõe transformar o 2 de Julho em feriado nacional, o professor foi enfático:

“É redundante, porque a Constituição de 1988 já previa isso. Mas nunca foi regulamentado. O feriado é necessário para lembrar que pessoas morreram para garantir a nossa liberdade. Isso é patriotismo de verdade, não é só cantar o hino da bandeira”, declarou.

Segundo ele, um povo que não conhece sua história está fadado a repetir os mesmos erros.

O professor também comentou sobre a percepção mútua entre brasileiros e portugueses.

“Ninguém gosta de ter seus interesses contrariados. Para os portugueses, o Brasil era uma colônia muito lucrativa. Para nós, éramos explorados. Como toda colônia é. O problema é quanto tempo se permite essa exploração. A Bahia tentou se libertar antes mesmo da independência, como na Revolta dos Alfaiates em 1798. Mas isso também é pouco ensinado”, disse.

Vicente Gualberto explicou como a decisão da Coroa Portuguesa de transferir a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, teve impactos duradouros sobre a economia baiana.

“Foi um baque enorme. Todo o dinheiro que vinha para o Nordeste passou a ir para o Sudeste. Salvador caiu em um ciclo de pobreza que só começou a ser amenizado nos anos 1970, com Antônio Carlos Magalhães como prefeito”, concluiu.

Comentários

Leia também

Bahia
Prefeito Tiago da Central anuncia inauguração de unidades de saúde e mais de R$ 6 milhões em investimentos

Prefeito Tiago da Central anuncia inauguração de unidades de saúde e mais de R$ 6 milhões em investimentos

Na área hospitalar, o prefeito anunciou a ampliação da capacidade de atendimento no...
Bahia
Prefeitura de Tanquinho realiza mapeamento dos eventos culturais do mês de agosto

Prefeitura de Tanquinho realiza mapeamento dos eventos culturais do mês de agosto

A iniciativa tem como objetivo estruturar um calendário cultural sólido, seguro e representativo...
Bahia
Defensoria intensifica ações de reconhecimento de paternidade em 48 cidades da Bahia

Defensoria intensifica ações de reconhecimento de paternidade em 48 cidades da Bahia

Campanha "Meu Pai Tem Nome" promove mutirões em agosto com exames de DNA e atendimentos...