Reabilitação pós-AVC: especialistas alertam para importância do tratamento contínuo e com apoio familiar
A reabilitação pós-AVC precisa ser imediata, contínua, personalizada e feita com envolvimento emocional.
A reabilitação após um Acidente Vascular Cerebral (AVC) vai muito além da alta hospitalar. Especialistas afirmam que ela deve ser encarada como um processo contínuo, urgente e fundamental para restaurar, dentro do possível, a funcionalidade e a qualidade de vida do paciente. Em entrevista aos programa Jornal do Meio Dia, o neurologista Dr. Tarsis Farias e o fisioterapeuta Vinícius Oliveira, da clínica Reabserv destacaram os desafios enfrentados, a importância da atuação multidisciplinar e o papel indispensável da família nessa jornada de recuperação.
Segundo o Dr. Tarsis Farias, o cérebro possui a capacidade de reorganizar funções por meio da chamada plasticidade neuronal, especialmente nos primeiros seis meses após o episódio, período conhecido como “janela de ouro”.
“A reabilitação é essencial. Não sobra benefício, é algo fundamental após o AVC. A maioria dos pacientes não sai ileso do hospital, muitos saem com algum grau de dificuldade motora. Por isso, é necessário um tratamento intensivo para restabelecer ao máximo as funções perdidas”, explicou.
Ele reforçou que o tratamento começa ainda na internação, especialmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), e que qualquer pausa no processo pode ser prejudicial.
“Se o paciente não dá continuidade ao processo fora do hospital, ele pode evoluir com quadros graves, como retrações de tendões, perda de mobilidade e sequelas irreversíveis”, alertou.
Para o fisioterapeuta Vinícius Oliveira, o retorno para casa não deve significar descanso, mas continuidade do cuidado.
“O paciente tem um tratamento intensivo dentro do hospital, principalmente nas unidades especializadas. Mas, quando ele volta para casa, não pode ficar 10, 20 dias ou meses sem nenhum tipo de estímulo. Isso pode trazer complicações importantes, como o aumento da rigidez muscular, o que chamamos de espasticidade, que pode até limitar os movimentos”, afirmou.
A recuperação pós-AVC deve ser conduzida por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir neurologista, fisioterapeuta, nutricionista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo.
“Cada paciente precisa de uma avaliação individualizada. A partir de escalas de avaliação funcional, conseguimos traçar metas que vão desde sentar na cama, alimentar-se sozinho, ir ao banheiro, até retomar alguma autonomia na vida cotidiana”, destacou Vinícius.
Segundo os profissionais, a eficácia da reabilitação está diretamente ligada a diversos fatores, como idade, hábitos de vida anteriores ao AVC, tamanho e localização da lesão, condição física geral e até mesmo a capacidade cognitiva do paciente.
“Um diferencial da fisioterapia neurológica é a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de reaprender funções. Mas isso depende de uma série de fatores, inclusive da história de vida da pessoa”, acrescentou o fisioterapeuta.
Além da atuação técnica dos profissionais, o suporte familiar é considerado indispensável.
“A família é essencial na fase inicial. É ela quem sustenta o paciente nas tarefas básicas. Mas, com o avanço da reabilitação, o objetivo é reduzir essa dependência, dando mais autonomia ao paciente e alívio à família”, explicou Dr. Tarsis.
Vinícius lembrou ainda que, muitas vezes, os familiares precisam mudar completamente sua rotina para prestar os cuidados.
“Muitos pacientes voltam para casa totalmente dependentes, sem conseguir ao menos escovar os dentes ou vestir uma roupa sozinhos. Isso afeta toda a dinâmica familiar”, ressaltou.
Quando questionados se é possível voltar a ter uma vida normal após um AVC, os especialistas foram categóricos: sim, mas esse “normal” pode ganhar um novo significado.
“O paciente pode não recuperar totalmente um lado do corpo, por exemplo, mas ainda assim alcançar uma boa qualidade de vida. É o que chamamos de ‘novo normal’. Ele pode encontrar formas de se adaptar às limitações e viver com independência e felicidade”, disse Vinícius.
Dr. Tarsis complementou: “Normal é uma palavra ampla. Pode ser uma vida diferente, mas não necessariamente pior. O objetivo é resgatar a dignidade e o prazer de viver, mesmo com as novas condições impostas pelo AVC”.
O neurologista também alertou sobre os impactos econômicos e sociais da doença: “Além do risco de morte, muitos pacientes acabam excluídos da vida produtiva, o que gera impactos severos para as famílias e para o sistema de saúde. A reabilitação bem-feita pode transformar esse cenário”.
Por isso, ele e Vinícius fizeram um apelo à prevenção. “A atividade física é fundamental não só na reabilitação, mas também na prevenção. Cuidar da alimentação, manter hábitos saudáveis e fazer exercícios regulares ajudam a evitar o AVC e muitas outras doenças”, frisou o médico.
Vinícius Oliveira é coordenador técnico da Reabserv, centro de reabilitação domiciliar com foco em neurologia. Contato: (75) 3304-3516 | Instagram: @reabserv