Casamentos curtos e relacionamentos em crise: especialistas e casal com 30 anos de união analisam cenário e compartilham aprendizados
O tempo médio entre casamento e divórcio caiu para 13,8 anos. Em contrapartida, divórcios após 20 anos de união caíram de 36% para 26%.
Dados recentes do Registro Civil de 2022 revelam uma tendência que preocupa: os casamentos no Brasil estão durando cada vez menos. Segundo a estatística, 47% dos casais se divorciam com menos de 10 anos de união, um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2010, quando esse número era de 37%. O tempo médio entre casamento e divórcio caiu para 13,8 anos. Em contrapartida, divórcios após 20 anos de união caíram de 36% para 26%.
Em entrevista ao programa De Olho na Cidade (Rádio Sociedade News), a psicóloga e especialista em sexualidade Dra. Anne Stephany atribuiu o fenômeno a uma série de fatores sociais e culturais.
“A sexualidade é muito mais do que o sexo em si. Envolve como o indivíduo se percebe e se posiciona no mundo. Com o advento do feminismo, por exemplo, as mulheres conquistaram mais voz, mais autonomia. Hoje, elas não aceitam mais permanecer em relacionamentos pautados em desrespeito, o que era muito comum em décadas passadas”, explicou.
Dra. Anne também destaca que os relacionamentos atuais enfrentam um novo desafio: a falta de tempo e de diálogo.
“As pessoas trabalham mais, convivem menos. Namoram por dois, três meses e já vão morar juntas. Mas é na convivência diária que realmente conhecemos o outro. O problema é que muita gente se apega à ilusão de que ama a pessoa que casou, sem perceber que cinco, dez anos depois, ambos já mudaram”, pontuou.
Quem também participou da conversa foi o casal Eligiane Figueiredo e Manoel Figueiredo, que estão casados há 30 anos. Eles representaram a voz da experiência, reforçando que casamento exige compromisso, admiração mútua e, sobretudo, perdão.
“Casamento é projeto de Deus”, disse Manoel. “Eu conheci minha esposa quando ela tinha 17 anos. Até hoje, é como se eu descobrisse uma nova mulher a cada dia. A convivência nos ensina que o outro muda e que essa mudança precisa ser acolhida com respeito e vontade de construir algo juntos”.
Eligiane, por sua vez, apontou a admiração como um pilar fundamental para manter a chama acesa.
“Sem admiração, o amor vai se esvaziando. Eu admiro o homem que Deus me deu, admiro como ele conduz nossa casa, nossos filhos. Isso fortalece o relacionamento”, afirmou.
Ela também ressaltou a importância do perdão: “Somos imperfeitos. E às vezes cobramos do outro uma perfeição que nem nós temos. Sem perdão e sem diálogo, tudo se acumula. Você guarda mágoas, não se comunica, e o problema só aumenta”.
A psicóloga Dra. Anne Stephany concluiu o encontro apresentando os cinco pilares da espiritualidade como chave para relacionamentos saudáveis: perdão, empatia/compaixão, resiliência, altruísmo e gratidão.
“Muitos casais chegam ao meu consultório sem saber quem são ou o que querem. Não se conhecem, não se olham. Quando a admiração acaba, a relação desaba. O segredo está em primeiro se autoconhecer e buscar constantemente entender o outro, com gratidão por tudo que já foi construído”, refletiu.