Saúde

Interações, efeitos colaterais e riscos: Cardiologista alerta para o uso indiscriminado de medicamentos

O consumo médio de medicamentos entre brasileiros adultos é de três por dia, e esse número chega a sete entre os idosos com mais de 70 anos

24/05/2025 18h04
Interações, efeitos colaterais e riscos: Cardiologista alerta para o uso indiscriminado de medicamentos

No quadro Momento IDM Cardio, veiculado todas as sextas-feiras nos programas Jornal do Meio Dia da Rádio Princesa FM e no De Olho na Cidade da Rádio Sociedade News, o médico cardiologista Dr. Cláudio Rocha fez um alerta sobre o uso excessivo e descontrolado de medicamentos, especialmente entre a população idosa. O especialista destacou que muitos pacientes chegam ao consultório com sacolas repletas de remédios, grande parte deles sem real necessidade e, em muitos casos, prejudiciais à saúde.

“Pacientes idosos usam, em média, cinco medicações por dia, mas tem idoso usando dez ou mais. E o pior: medicações muitas vezes indicadas por vizinhos, parentes ou compradas por conta própria na farmácia”, afirmou o cardiologista. Segundo ele, o uso indevido ou exagerado de medicamentos é uma das principais causas de descompensação de doenças cardiovasculares.

Dr. Cláudio destacou dois problemas sérios causados pelo uso inadequado de medicamentos: as interações medicamentosas e os efeitos colaterais, que são ainda mais agressivos em idosos.

“A interação pode potencializar ou anular o efeito de outra medicação. Já os efeitos colaterais, como úlceras ou problemas renais, são mais graves nos mais velhos. Tive uma paciente que, por conta própria, começou a usar anti-inflamatórios para dores nas pernas e acabou com uma úlcera imensa no estômago”, relatou.

O cardiologista reforçou a importância de ter um médico de referência, que gerencie todas as medicações do paciente.

“É comum o idoso ir a vários especialistas, mas nenhum deles ter a visão completa do que o outro está prescrevendo. É essencial que esse paciente leve todas as receitas a cada consulta e tenha um médico assistente de confiança para coordenar tudo isso”, explicou.

A conversa também abordou a banalização dos suplementos e de medicamentos de venda livre.

“O AAS, por exemplo, é usado por muitos como se fosse uma vitamina, mas pode causar sangramentos graves se não for bem indicado. O mesmo vale para suplementos e chás. Muita gente acredita que são naturais e inofensivos, mas eles também passam por processos químicos e não têm fiscalização rigorosa da Anvisa”, alertou Dr. Cláudio. Ele lembrou que os chás, inclusive, estão entre as principais causas de hepatite aguda no Brasil.

Uma estatística citada durante a entrevista revela que o consumo médio de medicamentos entre brasileiros adultos é de três por dia, e esse número chega a sete entre os idosos com mais de 70 anos.

“É muita medicação, e muitas vezes sem controle. Já vi pacientes que foram para a hemodiálise por uso inadequado de remédios e o mais preocupante: muitos casos nem chegam ao consultório”, lamentou o médico.

Sobre a necessidade de reavaliar o uso dos medicamentos, Dr. Cláudio explicou que isso varia de paciente para paciente, mas deve ser feito regularmente.

“Depende da doença, da interação medicamentosa e da resposta do organismo. Às vezes, o paciente precisa voltar em um mês, outras vezes pode esperar até um ano, mas o acompanhamento médico é indispensável.”

O cardiologista também defendeu a substituição de medicações desnecessárias por hábitos saudáveis.

“Tem suplemento que custa mais caro que uma mensalidade de Pilates. Atividade física pode ser muito mais benéfica para o idoso do que tomar comprimidos sem indicação médica.”

Ao encerrar a entrevista, Dr. Cláudio Rocha deixou um recado direto: “O idoso precisa de um médico de referência, alguém com quem ele possa contar, ter acesso e confiança. O gerenciamento das medicações e da saúde como um todo melhora a sobrevida, a qualidade de vida e ainda reduz os custos desnecessários com remédios que, muitas vezes, só fazem mal.”

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