Saiba quem foi o cardeal brasileiro que poderia ter sido papa
Cardeal do Brasil teve maioria dos votos no conclave de 1978, mas decidiu não assumir o cargo, que ficou com João Paulo II
Há quase 50 anos, a Igreja Católica teve um conclave para a eleição de um novo líder: o de outubro de 1978. Um cardeal brasileiro, dom Aloísio Lorscheider, teria sido o primeiro a ter a maioria dos votos. Ao recusar o cargo por problemas cardíacos, o então arcebispo de Fortaleza teria aberto caminho para a escolha de João Paulo II.
Segundo o teólogo e escritor Frei Betto, Lorscheider sofria de sérios problemas cardíacos. O arcebispo havia passado por uma cirurgia com colocação de oito pontes de safena e temia não suportar o peso da função.
Naquele contexto, a Igreja ainda estava abalada pela morte repentina de João Paulo I, que havia permanecido apenas 33 dias no papado. O receio de uma nova perda precoce influenciou diretamente na decisão do brasileiro.
Com a recusa, Lorscheider atuou nos bastidores para redirecionar os votos e ajudar a destravar o impasse do conclave. Conforme relata o livro “Papa João Paulo II – A Biografia”, do jornalista americano Tad Szulc, o cardeal brasileiro articulou para que os votos de colegas da América Latina e da África fossem direcionados a Karol Józef Wojtyła, que viria a ser eleito com o nome de João Paulo II. O pontificado de Wojtyła durou 26 anos, até sua morte em 2005.
Dom Aloísio Lorscheider faleceu dois anos depois, em 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre, aos 83 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos após um mês de internação. O episódio de sua eleição e recusa chegou a ser referenciado indiretamente no filme O Poderoso Chefão 3, lançado em 1991.
Dom Nelson Westrup, bispo emérito de Santo André (SP) falou sobre o assunto ao comentar sobre a possibilidade de um Papa brasileiro.
“Eu conheci bem Dom Aloísio, mas pessoalmente, eu nunca fui de adivinhar. O que eu faço? Assim que um Papa parte e outro deve vir, eu faço a minha oração, pedindo ao Espírito Santo que ilumine os cardeais para que façam uma eleição segundo o coração de Deus e não segundo a mentalidade do mundo.”
Dom Nelson Westrup afirma não ter conhecimento sobre esse episódio. “Tínhamos uma grande amizade. Eu o conheci bem, inclusive quando ele estava em Aparecida, perto de onde eu também trabalhava. Mas ele nunca falou sobre esse assunto”, disse o bispo emérito de Santo André. Questionado se acreditava na veracidade da informação, respondeu com cautela: “Não sei de nada a respeito disso. Nunca ouvi nada.”
*Com informações de Jorge Biancchi, direto de Roma