Ginecologista esclarece diferenças entre vaginismo e dispareunia e alerta para importância do diagnóstico
Dois distúrbios frequentemente confundidos, mas que têm causas e tratamentos distintos.
A ginecologista Dra. Márcia Suely abordou um tema sensível e ainda cercado de tabus: a dor na relação sexual. A médica explicou as diferenças entre dispareunia e vaginismo, dois distúrbios frequentemente confundidos, mas que têm causas e tratamentos distintos.
“Hoje vamos falar sobre dois termos técnicos muito parecidos, mas que precisam ser diferenciados: vaginismo e dispareunia”, introduziu Dra. Márcia. “Ambos estão relacionados à dor na relação sexual, mas com causas e características diferentes.”
Dispareunia: dor genitopélvica que pode afetar homens e mulheres
De origem grega, o termo “dispareunia” significa disfunção ou dor durante a relação sexual. “É um termo genérico e amplo. Pode acontecer antes, durante ou após a relação, e pode afetar tanto homens quanto mulheres”, explicou a ginecologista. Segundo ela, as causas são diversas, variando desde infecções urinárias e candidíase até endometriose e herpes.
“É importante entender que existem dois tipos principais de dor: a superficial, no início do canal vaginal, e a dor de profundidade, que pode ser sentida como uma cólica ou incômodo no colo do útero durante o ato”, esclareceu.
Vaginismo: quando o corpo responde com medo
Já o vaginismo, segundo Dra. Márcia, é uma condição mais específica, geralmente de origem psicológica.
“É uma dor que ocorre no momento da penetração, mas está diretamente associada à contração involuntária da musculatura que envolve a vagina. Em muitos casos, essa contração torna a penetração extremamente difícil ou até impossível.”
Ela trouxe o caso recente de uma paciente de 53 anos, casada, que convivia com o problema há anos sem diagnóstico.
“Essa mulher chegou ao meu consultório por sintomas do climatério. Inteligente, articulada, ela descreveu suas dores com clareza e, entre os sintomas, citou a dor na relação. Descobrimos que ela estava há dois anos sem ter relações sexuais com o marido e ainda não sabia que tinha vaginismo.”
Ao investigar mais a fundo, a médica descobriu que a paciente havia perdido todo o cabelo na adolescência, o que afetou diretamente sua autoestima. “Ela teve alopecia genética aos 14 anos e, desde então, evitava o contato íntimo. A questão emocional estava fortemente ligada ao problema físico.”
Diagnóstico tardio e falta de informação
De acordo com a ginecologista, o diagnóstico do vaginismo é muitas vezes negligenciado, inclusive por profissionais da saúde.
“Essa paciente fazia preventivo todo ano. Ninguém nunca percebeu. Na hora do exame ginecológico, já dava pra ver a dificuldade na introdução do aparelho. Em muitos casos, até um absorvente íntimo dói. Até o dedo incomoda.”
Ela faz um alerta importante: “Dor na relação sexual não é normal. O normal é prazer. A vagina é elástica o suficiente — é capaz até de permitir a passagem da cabeça de um bebê. Se existe dor, é preciso investigar.”
Impacto na vida do casal e o papel do parceiro
Durante a conversa, Dra. Márcia lembrou do relato de outra paciente, ouvinte da rádio, que procurou atendimento após escutar a médica ao vivo.
“Ela me contou que estava levando o filho pra escola com o marido, e ao me ouvir falando na rádio, o marido olhou pra ela e disse: ‘Você vai procurá-la’. Foi assim que descobrimos o vaginismo.”
“Quem sofre não é só a mulher. O parceiro também percebe que algo está errado, sente a frustração, o distanciamento. Muitas vezes, o casamento vai se desgastando por algo que poderia ser tratado”, disse. “Teve um marido que descreveu: ‘Doutora, parece uma parede’. Essa é uma das principais características do vaginismo: a sensação de barreira na penetração.”
Caminhos para o tratamento
Apesar de ser um tema delicado, Dra. Márcia traz esperança: “É possível, sim, controlar e tratar. No caso da dispareunia, depende da causa — pode ser infecção, endometriose, herpes, entre outros. Mas no caso do vaginismo, o tratamento costuma envolver psicoterapia e fisioterapia pélvica.”
Ela reforça que o primeiro passo é o reconhecimento. “Muitas mulheres acham que é normal sentir dor. Outras têm vergonha de falar. E, infelizmente, alguns colegas não perguntam ou não observam os sinais. Por isso, estamos aqui, pra informar. Porque informação liberta e salva relações.”
Por fim, a médica deixou uma mensagem direta às mulheres: “Se você sente dor na relação, procure ajuda. Isso não é normal. Pode haver tratamento e alívio. Você não está sozinha.”