Presidente da Associação de Surdos cobra acessibilidade e inclusão no mercado de trabalho durante Tribuna Livre
Elaine Figueiredo expôs as dificuldades enfrentadas especialmente em processos seletivos de empresas e concursos públicos.
Durante a sessão da Câmara Municipal de Feira de Santana desta quarta-feira (09), a Tribuna Livre foi ocupada por Elaine Figueiredo, presidente da Associação de Surdos de Feira de Santana, que trouxe um apelo por inclusão, acessibilidade e respeito aos direitos da comunidade surda, sobretudo no mercado de trabalho. Acompanhada por uma intérprete de Libras, Elaine expôs as dificuldades enfrentadas especialmente em processos seletivos de empresas e concursos públicos.
A convite do vereador Pedro Américo, Elaine iniciou sua fala destacando sua formação em Letras Libras pela Universidade Federal da Bahia e sua pós-graduação em Inclusão com ênfase em Libras. Em seguida, ela trouxe à tona as angústias vividas diariamente pelos surdos diante da falta de acessibilidade e compreensão nas instituições públicas e privadas.
“O que os surdos mais discutem hoje é a acessibilidade. Nas empresas, existem vagas destinadas a pessoas com deficiência, mas quando um surdo sinalizante chega, a empresa não o admite porque exige comunicação oral. Isso é exclusão. Até quando isso vai continuar acontecendo?”, questionou Elaine.
Ela também destacou que, mesmo com formação superior, muitos surdos continuam desempregados por falta de intérpretes e adaptação nos ambientes de trabalho. Segundo a presidente da associação, há pelo menos 20 surdos formados em Feira de Santana que não conseguem se inserir profissionalmente.
“Nós temos surdos com graduação, prontos para contribuir com a sociedade, mas que são ignorados nos processos seletivos. Os concursos, como o Reda, também não são acessíveis. Os ouvintes acabam ocupando todas as vagas, e os surdos ficam para trás”, disse.
A fala também evidenciou a preocupação com a educação de crianças surdas e a necessidade de escolas bilíngues, com professores capacitados em Libras. Ela criticou a ausência de preparação nas instituições de ensino para acolher estudantes surdos com qualidade.
“As escolas não estão preparadas. Precisamos de professores com formação específica, de escolas bilíngues, de uma estrutura que respeite nossa diferença linguística. Surdo não é deficiente, é diferente. Nossa comunicação é visual e precisa ser respeitada como tal.”
Além das reivindicações por acessibilidade nas áreas da educação e do trabalho, Elaine apresentou o trabalho desenvolvido pela Associação de Surdos de Feira de Santana, localizada na Avenida Maria Quitéria, na esquina com a Escola São João da Escócia. A entidade atua há 16 anos na cidade, oferecendo cursos de Libras, promovendo eventos esportivos e culturais, além de ser um espaço de acolhimento e luta por direitos.
“A associação não é apenas um lugar de eventos. É um espaço de formação, de resistência, onde ensinamos Libras para ouvintes, realizamos oficinas, atividades esportivas e pedagógicas. Mas enfrentamos muitas dificuldades: falta de material, de equipamentos, de recursos para seguir funcionando. Precisamos do apoio da comunidade e do poder público.”
A presidente encerrou sua fala pedindo sensibilidade dos vereadores e empresários para com a causa surda e reforçou o apelo por ações concretas que promovam a inclusão real.
“Nós também somos pais e mães de família. Também queremos e precisamos trabalhar, educar nossos filhos, construir uma vida digna. Não queremos ser deixados para trás. A inclusão precisa ser prática, não apenas no discurso.”